
Como consequência, cada vez se conseguem melhores cuidados de saúde oral, maior amplitude de tratamentos, maiores taxas de sucesso, e claro, menos dor.
A medicina dentária cresceu, e com ela também a oferta de prestadores, com as mais variadas formas de abordagem, sendo que atualmente existem milhares de consultórios e clínicas dentárias em Portugal que, como se costuma dizer na gíria, servem todos os gostos e feitios.
A dúvida é: qual clínica escolher?
Apesar das inúmeras variáveis que podem pesar na balança, na hora de agendar uma consulta muitas pessoas ainda centram a sua procura naquele em quem poderão confiar. Pesquisam pelo dentista, ou aliás, pelo melhor dentista.
Mas o que define um bom dentista?
Bem… Tecnicamente, qualquer profissional em qualquer área da medicina tem uma curva de aprendizagem que vai percorrendo com os anos de experiência, tornando-se cada vez melhor.
Todavia, e do meu ponto de vista, ainda mais importante que o percurso profissional e o tempo de prática clínica, é a visão que o médico tem da sua própria profissão e que vai então ditar o nível de excelência dos cuidados prestados.
A Medicina Dentária pode ser definida como a área da medicina que se dedica à “avaliação, diagnóstico, prevenção e/ou tratamento de doenças, desordens e/ou condições da cavidade oral, área maxilofacial e/ou estruturas associadas e adjacentes e seu impacto na corpo humano; realizados por um(a) dentista no âmbito da sua educação, prática e experiência, de acordo com a ética da profissão e lei aplicável”.
Esta minuciosa descrição, da autoria da American Dental Association, é provavelmente uma das mais aceites, reconhecidas e referenciadas por todo o mundo.
No entanto, eu não me revejo muito nesta definição. Acho-a demasiado simplista e fechada. Prefiro encarar a medicina dentária como a área da medicina que se dedica ao restabelecimento e manutenção da saúde oral. E, embora numa primeira instância, possa parecer algo muito vago ou simplório, a verdade é que se trata de uma filosofia, que apesar de ser expressa num menor número de palavras, engloba muito mais do que a anterior.
É que a saúde oral, tal como a Ordem dos Médicos Dentista refere, não é apenas a ausência de doenças ou desordens ou condições, ela é multifacetada e inclui também a capacidade de falar, sorrir, saborear, mastigar e sobretudo transmitir emoções com confiança e sem dor ou desconforto.
E é nesta linha de raciocínio, que quando um paciente se senta na minha cadeira, a primeira coisa que eu vejo não é um problema mas sim a forma como esse problema influencia a sua qualidade de vida.
Na minha visão, um bom dentista não se limita a tratar dentes, mas sim pessoas, que na maioria das vezes têm dentes.
Não se trata apenas de remover uma cárie, fazer uma desvitalização, tirar um dente ou colocar um implante. Há que saber avaliar e resolver um problema oral de forma eficaz e eficiente, claro, mas também é preciso entender a forma como essa condição influencia a pessoa, como altera o seu dia-a-dia e forma de estar, quais as suas expectativas, quais os seus medos.
As fobias e os traumas estão ainda presentes em muitas pessoas, mesmo hoje em dia.
A maioria dos pacientes que atendo numa consulta de primeira vez cumprimentam-me com um “odeio dentistas!”. E o que é certo é que estes receios, por vezes, acabam por comprometer o bom decorrer das consultas e o sucesso dos procedimentos clínicos. Assim, e antes de iniciar qualquer tipo de tratamento, eu pessoalmente tento compreender o porquê destas aversões e de que forma, em conjunto, as conseguiremos ultrapassar.
Não só nestes casos como em todos os outros, é fundamental ouvir o paciente pois esta é a base sobre a qual se constrói uma boa relação médico-doente e me permite corresponder às expectativas de quem em mim e na minha equipa deposita a sua confiança.
Para tal é preciso tempo, algo que é muitas vezes desvalorizado por ambas as partes, na correria da vida de hoje em dia. Mas é essencial.
É essencial dedicar tempo a falar com o paciente, a comunicar com a equipa, a trocar ideias com colegas, a planear um caso. A dar atenção a todos os pormenores que podem fazer a diferença na passagem do paciente pelo nosso consultório. Só assim se consegue um tratamento dentário adaptado àquela pessoa.
E acho que isto é, de facto, o que diferencia um bom dentista, a não standardização de abordagens mas sim a sua a personalização perante o paciente em questão.
Porque um bom dentista é muito mais que tratar dentes!
Post original: Visão